Maria anda como eu:
Impossibilitada de fazer
tudo o que quer.
Tem mãos amarradas,
ar de doente, olhar de demente,
cansada.
Maria vai acabar como eu:
covarde nas decisões,
amante das cousas indefinidas
e querendo compreender suicidas.
Maria vai acabar assim sem rumo,
andando por aí,
fazendo versos
e tendo acessos
nostálgicos.
Maria vai acabar
bem tristemente.
De qualquer jeito,
lendo jornais,
tendo marido
indefinido.
(Não sei por que Maria
quer compreender
muito demais,
a vida do suicida,
E Maria vai acabar
se fartando da vida.)
A vida coitada,
é camarada, gosta de Maria,
quer fazer Maria viver mais,
porque Maria é desgraçada.
Quer deixá-la para o fim,
assim à mostra,
e eu francamente não entendo
por que Maria não gosta
da vida.
Hilda Hilst (Baladas)
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quinta-feira, 14 de agosto de 2014
terça-feira, 5 de agosto de 2014
Brilho finito
"Fico pensando em desintoxicação...
de como me livrar dos objetos
dos números analógicos
do cheiro de arroz e feijão feitos no relógio
ou apodrecendo nas panelas esquecidas no fogão
ruminadas pelos ponteiros langues de domingo ou segunda
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