terça-feira, 15 de outubro de 2013



A cidade ainda vigia
entre pichações, ruídos,
confabulações
E a esquina sutil
onde mora
o prelúdio

Conversas abafadas,
grunhidos,
vias tortas
entresilhadas
alvejadas por luzes
despautério

Esqueceram-se
das paredes brancas
encardidas
os lençóis manchados
a taça aos trincos
os brincos perdidos

Na cidade os olhos espiam
tecem o esconderijo
a terna idade, os anos idos
Amor-tecem
E no gozo

epílogo


Dani Ribeiro

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

On/Off

máquinas vitais
ligadas a fios
entre-laços
que cortam
se cruzam
amarram
emaranham-se

acoplaram
        arames
rede, pelo, fio
terra, fogo
wi-fi
o Encaixe perfeito
in/out

a boca geme
faminta
engole
expele
os fluídos,

fluxos

vísceras

poros

corpos
conectados
movimentos entranhados

 e simbiose


Dani Ribeiro


terça-feira, 19 de março de 2013

Contranarciso

Em mim
eu vejo o outro
e outro
e outro
enfim dezenas
trens passando
vagões cheios de gente
centenas

o outro
que há em mim
é você
você
e você

assim como
eu estou em você
eu estou nele
em nós
e só quando
estamos em nós
estamos em paz
mesmo que estejamos a sós.


Paulo Leminski

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

10 doencinhas básicas da poesia brasileira nos dias de hoje


  1. Livros de poesia são publicados antes dos poemas serem escritos;
  2. Os medíocres morrem de medo de plágio;
  3. Os palermas, epígonos & tietes são os primeiros que desistem de afundar navios;
  4. Os imbecis perderam a humildade;
  5. Apenas ouvir Caetano, Chico & Gil gera, num passe de mágica, poetas geniais;
  6. Ler não é um bom negócio;
  7. Por aqui não se entende nem o slogan dos grevistas da Lip:Produire autre chose, autrement; nem os versos de Ferlinghetti:Poets, come out of your closets, / Open your windows, open your doors, / You have been holed-up too long / in your closed worlds; nem a prosa de Roberto Bolaño: La vida hay que vivirla, en eso consiste todo. Me lo dijo un teporocho que me encontré el otro día al salir del bar La Mala Senda. La literatura no vale nada.;
  8. Continuam quase todos sentados na carteira da frente, de pau mole, treinando caligrafia com seus bonés bicolores com hélices amarelas & morrendo de medo de arruaça;
  9. Ninguém mais cultiva a própria vaia, é um país de “poetas” sérios;
  10.  Querem (& estão conseguindo) encarcerar a poesia nos calabouços da cultura hagiográfica & acreditam piamente que um poema precisa pagar um boquete para bibliografias.
*
p.s.: para mim, a poesia de verdade, sangrenta, caminha pelas ruas, ouvindo Raimundo Soldado no mp3 player, tostando um baurets, comendo um PF no centro da cidade enquanto o sol alarga os planos de fuga. A poesia dá uma fodidinha aqui & ali – & pensa: antes uma gonorreia que versinhos sorridentes. A poesia toca o terror! A poesia é um coquetel molotov! A poesia quer é mais, bróder!


Fabiano Calixto

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Abstinência




Ventilador-teto-lâmpada
Livros e livros empilhados
A boca muda, a cabeça moída
E dedos que apertam as teclas
num tec tec frenético

Diagnóstico de médico:
Síndrome de túnel de carpo
Lesão por esforço repetitivo

Recebeu licença de 10 dias
Para abster-se do uso do mouse

E da punheta.


Dani Ribeiro