sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Drama em três atos

                 I
Da ultima chuva que caiu
num acorde harmônico
criado numa ficção
neorromântica pseudo-erótica
Lola atuou com magnificência
O palco rastejou ao seu pés
e a plateia sugou-lhe a torpeza
 

                 II
noventa dias e um monodrama
pintado de nude e escarlate
escancarou-se a face dissimulada
- Esculpiram a safadeza! 


                 III
Lola feito cama leoa
rasgue o vestido
dispa a pele parda
Enerve sua cara pálida
Pra ver se dessa sua languidez enjoada
saia algum torpe excremento.

Dani Ribeiro

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Oswald Morto


Retrato de Oswald de Andrade, 1922 -
 Tarsila do Amaral



Enterraram ontem em São Paulo
um anjo antropófago
de asas de folha de bananeira
(mais um nome que se mistura à nossa vegetação tropical)


As escolas e as usinas paulistas
não se detiveram
para olhar o corpo do poeta que anunciara a civilização do ócio

Quanto mais pressa mais vagar


O lenço em que pela última vez
assoou o nariz
era uma bandeira nacional


NOTA:
fez sol o dia inteiro em Ipanema
Oswaldo de Andrade ajudou o crepúsculo
hoje domingo 24 de outubro de 1954


Ferreira Gullar

domingo, 23 de outubro de 2011

Poente

Impression Sunrise - Claude Monet 


A toda poesia
inflamada de fogo
mas que não queima,
deixa apenas
o clarão
antes de se esconder
atrás de um vasto
montanhoso

E aí a gente pensa
que a poesia foi-se embora
versando o
adeus.
E então
ela faz a rima
sempre oculta
calada
da noite escura
brincando de
deus

E a gente fica
feito matuto
só na escuta
achando que a gente é feito
de carne e osso
ego e oco,
enquanto o poente tece
em prosa e verso
o que o nascente faz
em verso e prosa


A poesia está onde nada se ouve
mas a gente sente

sê inteiro”
poente-nascente

Dani Ribeiro



sábado, 22 de outubro de 2011

Lepra




Aquelas casas velhas
de respiração chiada
cheiram Alzheimer com rum

Quanto mais as olho
mais minha sinusite lateja
a boca solfeja
“filarmônica-débil”

Aí eu corro com o peito magro
vacilando na calçada que é pura dismnésia

Paro na esquina
e tento perceber
que já estou farto do Barroco

Ofegante
sento de frente para igreja
e vem aquele louco
argentino
vendendo seus chinelos...

Se vou abrir aquela garrafa

é pura invenção.
Em Del Rei
pouco me vale uma rua

Lucas FL.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Irgocentrismos



Miméticaminhos

Em matéria de vida imito o mineiro
pá e lavra
pés mesclados na água
castelo de pedra erguido na areia

procurar na lama no lodo nos lados
pescar pedra e pó com peneira
pepitas preciosas deamantes
incrustados em cada instante

tirar da corrente
salvar da correnteza
que corre parada
e nunca é a mesma

Talvez na praia nas noites do diàdia
eu encontre um bruto diamante
ou quem sabe, a brutal -

Poesia

...

não há um Outro
que me habita
há Outros
e são Tantos

que me perco em meio
a mantos
a máscaras
e panos

há o olhar
o não lugar
sem olhos ou corpos
e estou lá

há sonhos enterrados
espelhos
desejos
e cacos

não há eu (para perder-se)
há falta
há nós
e os laços

há uma cidade
de muitas ruas
com seus becos

e buracos

...

Bêbado.

Menos de bebida
que de sonho

de olhar e ouvir
e falar e sentir

noiteahnoite o dia
além da luz

No encontro dos olhos
dos corpos do copos

receosos tilintantes
corações cheio de sangue

enquanto vida e
enquanto dor

cheios de algo bombeando o Ir
seja pra onde for

tremendo de coragem
de frio

de amor

...



agora que você viu
bem visto
bem vestido

o teatro
os contentes

aprenderá
a atuar?



Igor Alves
Mais poemas podem ser encontrados no blog CANTOS NOS CANTOS

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Tragédia de Jornal

O jornal da banca anuncia
estampada na primeira capa
a morte da égua atropelada

seu dono e velho amigo
vindo lá dos canaviais
chora a morte, estarrecido.

E como se não bastasse o triste fim
como se não bastasse
o sofrimento
daquela gente
dos canaviais
dias depois
um caminhão carregado de cana
cruza de frente na terra da estrada
e o homem tem sua cabeça decepada


Na notícia do jornal
eu pergunto àquele senhor
dono da banca
que vende ilusões
que vende a desgraça
e o tédio cotidiano:
Onde foi parar a poesia
da tragédia daquele camarada?

Dani R. F.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

O Poeta do Castelo

Curta de 1957 dirigida por Joaquim Pedro de Andrade, mostra com tamanha beleza a simplicidade cotidiana, a monotonia e a solidão, tão presentes na obra e vida do poeta Manuel Bandeira. Jóia rara!


Já aqui, com imagens de 'O Poeta do Castelo', o poema "Trem de Ferro" musicado por Tom Jobim.