sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Natal sem Sinos

No pátio a noite é sem silêncio.
E que é a noite sem silêncio?
A noite é sem silêncio e no entanto onde os sinos
Do meu Natal sem sinos?

Ah meninos sinos
De quando eu menino!

Sinos da Boa Vista e de Santo Antônio.
Sinos do Poço, do Monteiro e da Igrejinha de Boa Viagem.

Outros sinos
Sinos
Quantos sinos

No noturno pátio
Sem silêncio, ó sinos
Fe quando eu menino,
Bimbalhai meninos,
Pelos sinos (sinos
Que não ouço), os sinos de
Santa Luzia.

Manuel Bandeira

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

O Sofá


Um quase-luxo
Um pequeno descuido.

O assento digno do sofá
Servia obediente às bundas
Fedidas, cheirosas,
Gordas, magras
Lisas, peludas
Esculpidas ou com celulites

Da chegada à visita
Uma preguiça crônica
Um descanso do cansaço
Cabeças imbuídas de imagens televisivas

No centro do pomposo sofá
Uma mancha imperceptível
Coberta pelas nádegas

Era ele, o sofá
ora servido ao deleite dos prazeres
ora servido ao social de acomodar as bundas

Dani R. F.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Descarrego



Ela mal sabia que descolorir os rabiscos chapiscados tornaria-a menos benevolente com seus ímpetos. Mariana desconcertava cada letra da sua estória. Estava determinada a não seguir o percurso. Entre o trabalho às seis horas da manhã, com olheiras que encobriam a suavidade do seu olhar, ela maquiava-se toda, maquiava o sorriso do bom-dia. Enfrentava pessoas e papeladas. Resolvia os problemas do trabalho que mal cabiam em sua caderneta de anotações. Esperava as horas ganharem ânimo. A sua vontade era dependente do ponteiro do relógio. Esperava.
À noite, ela desprendia-se. Já tendo conquistado sua ilusória autonomia, Mariana não encostava suas manias infantis, desarrumava sua cama com bichos de pelúcia e quarto com decoração verde-musgo. Lia um livro que costumeiramente ficava sobre a cômoda empoeirada de pensamentos frívolos e alimentava seus caprichos com uma pequena dose de vinho ou vodca. Agarrada ao seu travesseiro de infância, masturbava-se para aliviar as tensões do dia. O travesseiro infantil, tão íntimo as suas vontades, transformava-se até virar um objeto fálico. Mariana não se arrependia. Do orgasmo colossal ao cansaço físico, o seu travesseiro continuava casto como sua remota infância, mesmo com as manchas do gozo e o escurecimento devido ao excesso da fumaça de cigarro. E dia após dia, de personalidades aparentemente alternadas, uma menina com rosto de menina e com vontades de mulher, tudo variava de acordo com as exigências. Mariana só não gostava de perder a linha, apesar de ter encontrado os dois caminhos...

Dani R. F.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Vinte e Quatro Orquídeas


Em solo incrédulo
Entediada com o outono atemporal
A orquídea ainda amadurece.
Estação lenta
beira a extática.
Engraçado que...
a beleza deflorada pelo tempo
atrai.

De orquídea a planta carnívora
a mosca
ou o inseto atraído
é sugado pelo delírio
da pequena morte.

Quando o mosquito não é devorado
senta-se nas bordas do pequeno vaso
e com um copo
contempla a bela flor
que as vezes é poesia.

Não sei ao certo,
mas os vinte e quatro anos de uma mulher
seria talvez essa orquídea branca.

bela

incrédula

entediada

traiçoeira

delicada

e outonal.


Lucas F.L.
* Esse poema foi dedicado a mim, que faço anos hoje!

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Manifesto Concepcionista




1. Morte ao ego. 


2. Ser uma nova personalidade a cada dia. 

3. Toda memória deve ser apagada.

4. O dinheiro deve ser abolido.

5. A humanidade está doente, o concepcionismo é o caminho para a cura.

6. O concepcionista é uma fraude que dura 24 horas. 

7. O caminho do excesso leva ao palácio da sabedoria.

8.Todo o concepcionista deve dormir nu como uma forma de purificação. 

9. Voa! 

10. Tudo o que foi dito deve ser esquecido agora.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Baco




Badalam os sinos da torre, já é meia-noite. A igreja acentua os mistérios dos anjos, e a iluminação permite ver vagamente a sua escultura perfeita e simétrica. A rua está deserta, prevalecendo o silencio e o uivo do vento invernal. A igreja, com seu ar barroco, toma a frente como majestade e poderosa, mãe das noites, dos enamorados, dos pecadores e dos boêmios. Mas ela não está só, apesar da sua presença soberba, mora ao lado a acanhada casa. De repente, as portas se abrem, e a movimentação de mesa e cadeiras se arrastando para seu devido lugar, pratos e copos sendo lavados, e um grupo de homens e mulheres se dirigem ao local. Ainda o barulho é mínimo. Todos conversam discretamente, talvez tomando cautela de não incomodar as casas adormecidas. Aos poucos, o lugar começa a ganhar vida e se fazer presença única no meio daquela noite. O dono da casa e sua companheira se prontificam a prestar serviço às pessoas que ali chegam, com vinhos e tirsos.

A calmaria tímida e sonolenta trespassa os indivíduos anônimos, esvaecendo-se a cada riso hiperbólico. Estão todos sóbrios, conversando paulatinamente. Entre pausas, uma fala e vários goles de uva fermentada. Anunciou-se a noite ritualista. Aos poucos a Igreja vai se esmorecendo perante a ebriedade nascente e inicia-se o culto dos ali presentes.

O mais belo e esbelto estava sentado no centro da mesa e, a sua direita, a mulher envolve-o com uma manta de pele de leão e uma coroa de pâmpanos. O frescor das uvas enleva todos os demais que se deliciam ao som da flauta doce. O sexo palpitante de cada um deles florescem como o desabrochar de uma rosa impaciente. Os donos da casa, depois de feito suas tarefas, entregam a chave para o homem enfeitado de Deus e retiram-se para dormir em outro ponto distante da cidade, onde a suntuosa Igreja e a singela casa já não são capazes de adentrar em seus olhos e em seus ouvidos...

Entre a Igreja e as portas fechadas da casa, morava o desconhecido. 

Dani R. F.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

No corpo

Pintura de Gustav Klimt
De que vale tentar reconstruir com palavras
      o que o verão levou
      entre nuvens e risos
junto com o jornal velho pelos ares?

O sonho na boca, o incêndio na cama.
o apelo na noite
agora são apenas esta
contração (este clarão)
de maxilar dentro do rosto.

A poesia é o presente.



Ferreira Gullar

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Fenômeno

Uma linguagem radical
Onde as folhas desprezam o talo
A musica sabota o guitarrista
E o gato adquire um amigo

Um idioma neoniilista
Sem comadres
Ladrões e cães ociosos

Canoas correrão rio abaixo
A grande queda
A luta física
Madeira e rocha

Ele percorre em cinco minutos a desfigurada e oblíqua avenida. O pouco necessário em resumidos passos. O leve cheiro de moveis envelhecidos, um gosto rústico e a cor extraviada do sol. Nem cigarros, nem portas abertas, rodas velozes, arrepios, lagrimas, beleza, não faz dele um sujeito ou coisa.      

Lucas F. L.

sábado, 18 de setembro de 2010

De olhos bem fechados


- Por eu ser uma mulher bonita... a única razão pela qual os homens querem falar comigo é porque querem me comer. É isso que você está dizendo?
- Bem, eu acho que a resposta não é tão simples assim, mas imagino que ambos sabemos como os homens são.
(...)
- Milhões de anos de evolução, certo? Os homens precisam enfiar o deles em tudo quanto é lugar, mas, para as mulheres, só o que importa é a segurança, o compromisso e sei lá que porra mais!
- Você simplificou bastante, Alice, mas é mais ou menos isso, sim.
- Se vocês, homens, soubessem...
(...)
- Mas você não é ciumento, certo?
- Não, não sou!
- Nunca sentiu ciúme de mim, certo?
- Não, nunca.
- E por que nunca sentiu ciúme de mim?!
- Bem, não sei Alice! Talvez por você ser minha esposa. Talvez por você ser mãe da minha filha e porque sei que você nunca me trairia.
- Você é muito, muito autoconfiante, não é?
- Não. Eu confio em você.
[Alice tem uma crise de risos]
- Você... se lembra do verão passado? (...) Bem..., eu já o tinha visto (o capitão) naquela manhã, no saguão. Ele estava chegando ao hotel e estava seguindo o mensageiro que levava a bagagem até o elevador. Ele olhou para mim de relance ao passar. Foi só um olhar. Nada mais. Mas eu mal consegui me mexer. Naquela tarde Helena foi ao cinema com uma amiga e eu fiz amor com você. Nós fizemos planos sobre o nosso futuro e falamos de Helena. Mesmo assim, em nenhum momento eu deixei de pensar nele. E pensei que, se ele me quisesse, mesmo que fosse só por uma noite, eu estaria pronta a abandonar tudo. Você, Helena, todo o meu futuro. Tudo. No entanto, foi estranho, porque ao mesmo tempo você foi mais precioso para mim do que nunca. E, naquele momento, o meu amor por você era ao mesmo tempo terno e triste. Eu mal dormi naquela noite e acordei em pânico na manhã seguinte. Não sabia se tinha medo de que ele tivesse partido ou de que ele ainda estivesse lá. Mas, no jantar, percebi que ele tinha ido embora e fiquei aliviada.

De olhos bem fechados - Stanley Kubrick

sábado, 11 de setembro de 2010

Adultério

Noite fria, movimentação intensa. Em cada canto, um bar rodeado de pessoas efusivas. Em meio aquela neblina que ofuscava a noite, um olhar rasgado passou por ali. Dois olhos e um anseio. O outro que os observou, seguiu obediente a sua intuição noturna. Era ela, a dona daqueles olhos convidativos. “Você!”. Murmurou o rapaz ainda pouco cegado pela bruma. A mulher caminhou indiferente, afastando-se de qualquer olhar suspeito e impôs a sua graça perante a fragilidade da noite cinza. O que ela queria era apenas um gozo e um bocado de amor que foram esquecidos durante sua vida conjugal: “Os rapazes não me servem, o que eu quero não existe!”

Na realidade nua, desconhecem o amor.
Eles só almejam um pouco de ostentação e luxúria,
Mas cultivam entre si o amargo-doce do cotidiano...

Dani R. F.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

O Bicho

Vi ontem um bicho
Na imundice do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa;
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.

Manuel Bandeira

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

São José Del Rei

Bananeiras
O Sol
O cansaço da ilusão
Igrejas
O ouro na serra de pedra 
A decadência.


Oswald de Andrade

Fonte: panoramio.com

*São José Del Rei é o antigo nome da cidade de Tiradentes-MG

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Ponto de Partida



O ponto
A ida
O adeus

O ponto era eu
O destino era seu
Da partida ao fim

Ficou o amar-go
Levou uma parte
De amor

Sozinho
No ponto
Da partida

Partiu
Em pedaços
Um pouco de mim

Dani R. F.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

A mulher selvagem e a amantezinha



“ Francamente, minha cara, você me cansa além da conta e sem dó; quem a ouve suspirar haveria de dizer que sofre mais que as catadoras de papel sexagenárias e as velhas mendigas que recolhem pedaços de pão à porta dos cabarés.
Se ao menos seus suspiros exprimissem remorso, a honrariam um pouco; mas só traduzem a saciedade do bem-estar e a prostração do repouso. De mais a mais, você se estende a palavras inúteis: ‘Goste de mim, preciso tanto! Me console daqui, me acaricie dali!’ Está bem, vou tentar curá-la; talvez encontremos a maneira, por dois soldos, no meio de uma festa, e sem ter que ir muito longe.
(...)
Que podem significar para mim todos esses pequenos suspiros que incham seu peito perfumado, minha robusta coquete? E todas essas afetações aprendidas nos livros, e essa infatigável melancolia, feita para inspirar no espectador sentimento bem diverso da piedade? Na verdade, tenho vontade de lhe ensinar, às vezes, o que é a verdadeira desgraça.
A vê-la assim, minha bela delicada, os pés no lodo e os olhos vaporosamente voltados para o céu, como quem lhe pede um rei, penso num jovem batráquio a invocar o ideal. Se despreza a vigazinha frágil (que é o que eu sou hoje em dia, como você bem sabe), cuidado com a grua que pode trincá-la, comê-la e matá-la a seu gosto!
Por mais poeta que seja, não sou tão bobo quanto pensa e se me cansa muito com suas preciosas choradeiras, trato-a como mulher selvagem, ou a jogo pela janela como uma garrafa vazia.”

Charles Baudelaire

________

* Não deixem de ler esse poema em prosa na íntegra em:
Baudelaire, Charles. O Spleen de Paris: pequenos poemas em prosa. Rio de Janeiro: Imago Ed., 1995. p.38

segunda-feira, 19 de julho de 2010

June é apenas imaginação



FEVEREIRO DE 1932


     Para Henry: “Talvez você não tenha percebido isso, mas pela primeira vez hoje você me chocou e tirou de um sonho. Todas as suas observações, as suas histórias de June, nunca me magoaram. Nada me magoou até você tocar na fonte do meu terror: June e a influência de Jean. Que terror eu tenho quando me lembro da conversa dela e sinto através dessa como ela é carregada com as riquezas de outros, de todos os outros que amam sua beleza.
(...)
     Compreenda-me. Eu a venero. Aceito tudo que ela é, mas ela deve SER. Só me revolto se não houver nenhuma June. Não me diga que não há June exceto a June física. Não me diga, porque você deve saber. Você viveu com ela.
     Nunca temi, até o dia de hoje, o que nossas duas mentes descobririam juntas. Mas que veneno você destilou, talvez o próprio veneno que está em você. Isto é seu terror, também? Você se sente atormentado e no entanto, iludido, por uma criação de seu próprio cérebro? É o medo ou uma ilusão que você combate com palavras cruas? Diga-me que ela não é uma bela imagem. Às vezes quando conversamos sinto que estamos tentando assimilar a realidade dela. Ela é irreal até para nós, até para você que a possuiu, e para mim, a quem ela beijou.

Anaïs Nin

sexta-feira, 16 de julho de 2010

A caminho da pensão


Foi ali, naquele distinto lugar
Que houve um pouco de vida
Ungido de palavrões e bebida.

Congelou-se, esmaeceu a pequena quina
As cores das casas coloniais desgastaram-se
E o frescor do silêncio foi cortado pelo forte barulho da locomotiva.

Saí da minha absorção
Pensei, pesado, ensimesmado
Na morte violenta daquele instante.

Foram só pessoas, foram só solitários,
Errados, vazios, vadios, passantes
fundidos com o cheiro fétido do ribeirão
Onde os pequenos ratos espalham a crápula.

E que glória há num depósito cheio de podridão?
O ambiente está infestado pelas cópulas
As migalhas de alimento estão dispersas pelo chão
O cheiro da dama-da-noite confunde-se com a urina
E, depois da locomotiva, o que se ouve são gemidos
São só prazeres...

É vida orgânica se metabolizando, meu caro!


Dani R. F.
Pintura de Maurice Utrillo

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Lua-de-mel madura


NOVEMBRO, 1931

Nunca fomos tão felizes nem tão infelizes. Nossas brigas são prodigiosas, tremendas, violentas. (...) Um grito meu o traz subitamente a meus braços, soluçando. E então ele me deseja fisicamente. Nós choramos e nos beijamos e atingimos o orgasmo no mesmo momento. E no momento seguinte analisamos e conversamos racionalmente. É como a vida dos russos em O Idiota. É histeria.
(...)
- O que está acontecendo a nós? Nunca dissemos coisas tão terríveis um ao outro?
E então Hugo disse: - Esta é a nossa lua-de-mel, e estamos estimulados.
(...)
Uma lua-de-mel madura, com sete anos de atraso, cheia do medo da vida. (...) É a nossa defesa contra o intruso, o desconhecido.

Anaïs Nin

terça-feira, 13 de julho de 2010

Prazeres anormais

Para os que acompanham meu blog, devem ter notado o meu fascínio por Henry Miller. Como meio de explorar mais o seu universo, decidi enveredar por outra direção e fazer uma releitura do diário de Anaïs Nin (Henry, June e eu - delírios eróticos). Frequentemente estarei postando alguns trechos do diário aqui, espero que gostem!


____________

PARIS, OUTUBRO DE 1931

Meu primo Eduardo veio a Louveciennes ontem. Conversamos durante seis horas. Ele chegou à conclusão a que eu chegara também: que eu preciso de uma mente mais velha, de um pai, um homem mais forte do que eu, um amante que me conduza ao amor, porque tudo o mais é uma coisa auto-criada. O ímpeto de crescer e viver intensamente é tão forte em mim que não consigo resistir a ele. Vou trabalhar, vou amar meu marido, mas vou me realizar.
(...)
Os homens que eu quis, não pude ter. Mas estou decidida a ter uma experiência quando ela se apresentar a mim.
- A sensualidade é uma força secreta em meu corpo - disse a Eduardo. - Um dia ela aparecerá, saudável e ampla. Espere um pouco.
Ou não é este o segredo do obstáculo entre nós? - de que o tipo dele é a mulher graúda, rosada, cheia, enquanto eu sempre serei a virgem-prostituta, o anjo perverso, a mulher de duas caras sinistra e santa.
(...)
Perguntei a Eduardo:
- O desejo de orgias é uma daquelas experiências que se deve ter? E uma vez vivida, pode-se superá-la, sem a volta dos mesmos desejos?
- Não - respondeu ele. - A vida de instintos liberados é composta de camadas. A primeira camada leva à segunda, a segunda à terceira e assim por diante. No final leva a prazeres anormais. - Como Hugo e eu poderíamos preservar o nosso amor nesta liberação dos instintos ele não sabia. Experiências físicas, sem as alegrias do amor, dependem de distorções e perversões para o prazer. Prazeres anormais matam o gosto pelos normais.

Anaïs Nin


sexta-feira, 25 de junho de 2010

Trópico de Câncer (Henry Miller)




“São homens e mulheres mesmo ou são sombras, sombras de fantoches pendurados por invisíveis cordéis? Eles se movem aparentemente em liberdade, mas não tem para onde ir.” p. 222







Vou dedicar este espaço para falar um pouco do livro que terminei de ler recentemente. É o “Trópico de Câncer” do escritor americano Henry Miller. Há tempo não encontrava um livro que me interessasse, muitos dos que chegava a ler, acabava parando no meio do caminho.

Ainda não conhecia nenhuma obra desse escritor, apenas tinha ouvido falar. Mas antes de ler um dos seus romances, já havia lido o livro de Anaïs Nin – Henry, June e Eu, delírios eróticos – um diário em que a escritora descreve as suas mais íntimas aventuras amorosas com o próprio Miller e com sua amante June.

Um dos motivos de ter gostado do livro de Miller é a presença de uma narrativa crua, forte, franca e marginal. Um soco no estômago para os mais sensíveis ou despreparados. Tem bastante afinidade com o propósito do meu blog: uma escrita que descreve uma realidade desnudada, sem enfeites, com todas as podridões humanas que dificilmente estamos habituados a ver, ler ou ouvir. Entretanto, sabemos que ela existe e ignoramo-as porque isso nos causa repulsa, desconforto, isso NOS INCOMODA. Mas é exatamente esse tipo de literatura que ultimamente tem me atraído.

Pois bem, falemos então do romance escrito por Miller. A princípio, esse romance pode ser considerado uma autobiografia, pois o escritor vai relatando – sem o compromisso com uma narrativa linear – suas experiências vividas numa Paris que nós, estrangeiros, desconhecemos.

Publicada pela primeira vez em 1934, com ajuda financeira de Anaïs Nin, o romance causou muitas polêmicas na época (e ainda causa, embora com menos intensidade) por ser considerado um livro pornográfico. Chegou a ser proibido em diversos países, inclusive no Brasil, na década de 70. Para mim, o livro passa longe de ser considerado pornográfico e, apesar das cenas de sexo presentes no livro, o autor consegue narra-las sem fazer uso de uma vulgaridade excessiva. Ao contrário, ele descreve essas cenas com um olhar observador e algumas vezes, crítico e reflexivo do momento presenciado.

Em Trópico de Câncer, a bela e elegante Paris – a Cidade Luz – perde toda a sua exuberância. O que vemos é uma Paris preconceituosa, hostil e cruel com seus habitantes, principalmente com os imigrantes de todas as partes do mundo. Os arredores e subúrbios da cidade estão infestados por prostitutas e miseráveis. Em todos os cantos, há sexo fácil, bares decadentes e casas de prostituição. Todos convivendo em uma situação desumana, com todos os tipos de doenças possíveis e sem condições nenhuma de higiene.

Letrado, inteligente, amante de filosofia e com um bom domínio da língua francesa, Henry se vê totalmente sem oportunidades e vive a depender dos favores das pessoas que vai conhecendo. Faz amizades com vários artistas e intelectuais, igualmente boêmios. Chega a morar com vários conhecidos, presta serviços de todos os tipos imagináveis: desde carregador de cargas até professor de inglês num colégio interno. Tudo isso em troca de alguns francos ou simplesmente por comida. No seu auge da miséria, chega a pedir esmola e roubar.

Diante de todo esse caos que Miller se vê inserido, de todos os atos humanos, desde os mais primitivos aos mais nobres, nada passa despercebido aos seus olhos. E isso faz com que o narrador se torne um homem apático, frio, e chega a concluir que os homens são apenas um corpo fraco, presos em seus cárceres privados para apodrecerem lentamente. Não há choque, não há emoção nos acontecimentos por ele testemunhado.

Através desses relatos, temos acesso a um retrato bastante realista de um mundo entreguerras. Na verdade, Henry Miller deixa a América para sonhar uma vida melhor em Paris, o que acaba, em partes, não acontecendo. Contudo, o próprio narrador, mesmo convivendo nessas condições miseráveis, reconhece que Paris, com todas as suas podridões, é uma cidade que vicia, uma cidade que te amarra com todo os seus tentáculos e jamais deixa de respirar a arte. Ele chega a afirmar que é preferível ser pobre na Europa a ser pobre na América, pois lá o escritor encontra o que não há em sua terra natal: a liberdade. A liberdade de SER, a liberdade de ir e vir, a liberdade de não se prender ao ritmo agitado de uma sociedade extremamente apegada ao progresso e ao consumo. Mesmo que o mundo esteja sendo construído através da exploração humana, Henry consegue construir a sua própria identidade para se tornar um homem livre.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

No canto do olho

Bem aqui, ali no canto
No ultimo lugar
No esgotamento do mito
Na pestana insensível


A branca com sardas
Fios pretos pretos
As sobrancelhas finíssimas
O Mais estava ali

Seria o monólogo de Vênus
A condessa auxiliar
Uma pobre
Intensa e intensa

Ali se passa uma esquina louca
Um fundo silencioso
Onde vitimadores olhares
Viciam as imagens minhas

Por favor, me dê isso e aquilo
Obrigado!
Tem formol?
Quero mais esses dois olhos para levar.


Lucas F.L.
Foto de Anna karina

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Saramago: Luto

"Todos sabemos que cada dia que nasce é o primeiro para uns e será o último para outros e que, para a maioria, é só um dia mais"

"Há esperanças que é loucura ter. Pois eu digo-te que se não fossem essas já eu teria desistido da vida"

"Fisicamente, habitamos um espaço, mas, sentimentalmente, somos habitados por uma memória"



quinta-feira, 17 de junho de 2010

Em tempos de Copa


“Em futebol, o pior cego é o que só vê a bola. A mais sórdida pelada é de uma complexidade shakesperiana. Às vezes, num córner bel ou mal batido, há um toque evidentíssimo do sobrenatural”.

Nelson Rodrigues
"Sou um suburbano. Acho que a vida é mais profunda depois da praça Saenz Peña. O único lugar onde ainda há o suicídio por amor, onde ainda se morre e se mata por amor, é na Zona Norte”.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

A procissão


Um murmúrio vindo de longe ressoa pelo alto-falante
Ainda indistinguível, mas já anuncia a morte.
Homens e mulheres lamentam-se como de costume
E adornam suas casas com uma manta roxa e branca

A procissão aproxima-se melancólica e vagarosamente
Seus seguidores unem-se para chorar a morte de Cristo
O corpo santo segue em frente, venerado por seus fiéis
Maria, mãe de Jesus, em lamúrias, quase se desfalece.

As velas acesas, o incenso, o aroma das flores noturnas
O vento que abraça a multidão e ameaça as luzes
Uma canção lúgubre cantadas por milhares de vozes
Acompanha o séquito sagrado de sexta-feira santa.

Vejo a procissão interminável, caminhando sorumbática
Os semblantes graves, mal iluminados pela vela
As vozes que arranjam a musica com tal imperfeição
Que chega a ferir a imponência do culto religioso.

Companheiro, não sinto outra coisa além da compaixão.
Bem posso sentir o cheiro forte da terra...
Todos aqueles que ali caminham desconhecem
O triste fim que por eles, espera.

Dani R. F.
* Escrito na Semana Santa (2010)

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Salutante


A sensualidade da noite ainda não está finda.
Que cantem os pacatos noturnos sob o luar,
Na esperança de que o tempo passe com mais vagar.

Mas aqui, a juventude desbota suave, ligeira.
E o tempo corre, depressa, faminto.
O amor floresce no sexo, instinto.

E cá estão os enamorados extravagantes,
Extasiados, exagerados na embriaguez , saúdam!
Sabem que a vida é breve, e que o amor
não passa
de uma
Farra.

-Morituri te salutant!

Dani R. F.

Vulgívaga


Não posso crer que se conceba
Do amor senão o gozo físico!
O meu amante morreu bêbado,
E meu marido morreu tísico!

Não sei entre que astutos dedos
Deixei a rosa da inocência.
Antes da minha pubescência
Sabia todos os segredos...

Fui de um... Fui de outro... Este era médico...
Um, poeta... Outro, nem sei mais!
Tive em meu leito enciclopédico
Todas as artes liberais.

Aos velhos dou o meu engulho.
Aos férvidos o que os esfrie.
A artista, a coquetterie
Que inspira... E aos tímidos - o orgulho.

Este caçôo-os e depeno-os:
A canga fez-se para o boi...
Meu claro ventre nunca foi
De sonhadores e de ingênuos!

E todavia se o primeiro
Que encontro, fere toda a lira,
Amanso. Tudo se me tira.
Dou tudo. E mesmo... dou dinheiro...

Se bate, então como o estremeço!
Oh, a volúpia da pancada!
Dar-me entre lágrimas, quebrada
Do seu colério arremesso...

E o cio atroz se me não leva
A valhacoutos de canalhas,
É porque temo pela treva
O fio fino das navalhas...

Não posso crer que se conceba
Do amor senão o gozo físico!
O meu amante morreu bêbado,
E meu marido morreu tísico!

Manuel Bandeira
Pintura de Amadeo Modigliani, 1917

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Aniversário do meu blog e Prêmio Dardos 2010

Oi pessoal. Hoje meu blog completa 1 ano de existência. E justamente nesse dia, nada mais especial do que receber o selo "Prêmio Dardos" do blog Palavras e devaneios
Estou extremamente agradecida e para compartilhar o carinho, vou indicar 10 blogs para receber o selo.

 


"O Prêmio Dardos é um reconhecimento dos valores que cada blogueiro emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc. que, em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo, que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras. Esses selos foram criados com a intenção de promover a confraternização entre os blogueiros, uma forma de demonstrar carinho e reconhecimento por um trabalho que agregue valor à Web"

As regras são:

- Aceitar e exibir a imagem do selo no blog.
- Linkar o blog do qual recebeu o prêmio.
- Escolher 10 blogs para entregar o Prêmio Dardos.

Blogs indicados para receber o selo:











quarta-feira, 12 de maio de 2010

Travessia


"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos."

Fernando Pessoa

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Ressaca


São tantas horas, oh céus!
Que vida breve, corriqueira
Ao som da gaita, viajo
Meu copo vazio degusta o vomito da ressaca

Sempre mais um pouco de melancolia
Escorrego nessa vadiagem
Com meus dedos que deslizam num piano imaginável
Componho essa banda que me anestesia

Ainda inebriada, ouço.
Quantas tragadas de vozes graves, desarmônicas.
A flauta em puro pó espera dormente
São ritmos confusos, incompreensíveis

Fatigada das noites
Exilo-me do meu próprio lugarejo
Na pausa descompassada, movimento-me
Um desejo se desfalece e ressuscita antes do fim da noite

Em meio a rebuliços, meus pés se locomovem
O corpo hesita, mas dança por chãos movediços.
Ainda espero o copo, sem o vômito,
antes de hidratar meu paladar embebedado.

Dani R.F.
Pintura de Edward Munch

sábado, 24 de abril de 2010

Cigarronia


A percepção, dose e dose...
Todos os dias, conversas
Vi uma jovem fumando
Era limpa, rica
A pequena, o cigarro
A miúda

Eu vi ontem a coisa
Os que olhavam,
Estavam perdidos
Ela continuava, charmosa...
Ontem a noite, o omisso
Falava, pensava, sentado, pesado...

Acaba mais uma morrendo...

Lucas F. L.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Henry Miller por ele mesmo

"Eu era meu pior inimigo. Do que eu desejasse fazer nada havia que eu não pudesse também deixar de fazer. Mesmo em criança, quando nada me faltava, eu queria morrer: queria entregar-me porque não via sentido em lutar. Sentia que nada seria provado, justificado, somado ou subtraído se eu continuasse uma existência que não havia pedido. Todos ao meu redor eram fracassados e, se não fracassados, ridículos. Especialmente os que haviam vencido. Estes me faziam chorar de enfado. Eu era indulgente com as faltas, mas não era simpatia que me impulsionava. Era uma qualidade puramente negativa, uma fraqueza que florescia à simples vista da miséria humana. Nunca ajudei alguém esperando que disso resultasse algum bem. Ajudava porque era incapaz de agir de outra maneira. Querer mudar o estado de coisas parecia-me fútil. Estava convencido de que nada seria mudado, a não ser por uma mudança de coração, e quem poderia mudar o coração dos homens? De vez em quando um amigo se convertia. Era algo que dava vontade de vomitar. Eu não tinha mais necessidade de Deus que Êle de mim e, se existisse Deus, dizia muitas vezes comigo mesmo, eu O enfrentaria calmamente e cuspiria na sua cara.(...)
Desde o começo devo ter-me treinado a não desejar muito coisa alguma. Desde o começo fui independente, de uma maneira falsa. Não tinha necessidade de ninguém porque desejava ser livre, desejava ter a liberdade de fazer e dar só quando assim o ditassem meus caprichos. No momento em que algo era esperado ou exigido de mim eu me esquivava. Essa era a forma que tomava minha independência. Em outras palavras, eu era corrupto, corrupto desde o começo. Era como se minha mãe me tivesse alimentado com veneno e, embora desmamado cedo, o veneno nunca tivesse deixado meu organismo. Parece-me que mesmo quando ela me desmamou eu fiquei completamente indiferente. A maioria das crianças revolta-se ou finge revoltar-se, mas eu não dei a menor importância. Ainda em cueiros eu já era filósofo. Era contra a vida, por princípio. Que princípio? O princípio da futilidade.

In: Trópico de Capricórnio. p.3-4

Para ela


"Muitas vezes o exemplo tem maior efeito que a palavra para excitar ou para acalmar paixões humanas. Assim, depois das consolações que vos pude oferecer diretamente em nossa conversa, desejo, de longe, colocar sob vossos olhos, em uma carta animada dos mesmos sentimentos, o quadro dos meus próprios infortúnios: espero que, comparando minhas infelicidades às vossas, reconhecereis que vossas provações nada são ou são pouca coisa, e tereis menos dificuldade em suportá-las."

PIERRE ABAILARD
História calamitatum
Primeira carta

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Meu segredo



"Meus olhos são verdes. Mas são verdes tão escuros que na fotografia saem negros. Meu segredo é ter os olhos verdes e ninguém saber. À extremidade de mim estou eu. A que diz palavras. Palavras ao vento? que importa, os ventos as trazem de novo e eu as possuo. Eu à beira do vento. O morro dos ventos uivantes me chama. Vou, bruxa que sou. E me transmuto.
Eu estou à beira de meu corpo. Que estou eu a dizer? Estou dizendo amor. E à beira do amor estamos nós."

Clarice Lispector.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Desassossego

 
E se umas idéias incongruentes perpassassem tua mente?
A subserviência a elas te levaria à prisão repentina
E num ímpeto, uma fúria te assolaria e acabaria com tuas forças.

Eis que me sinto inapta a qualquer ato de violência
Mesmo que minhas pernas estejam se debatendo
E minha cabeça corroída pela cólera.

Assim estou,
Assim permaneço.
Desfazendo-me
E refazendo.

Dani R.F.

domingo, 4 de abril de 2010

Henry Miller

Mais do que marginal, ele se diz Inumano.

" Outrora eu pensava que ser humano era o mais alto objetivo que um homem podia ter, mas vejo agora que isso se destinava a destruir-me. Hoje sinto orgulho em dizer que sou inumano, que não pertenço a homens e governos, que nada tenho a ver com crenças e princípios. Nada tenho a ver com a maquinaria rangente da humanidade - eu pertenço à terra! Digo isto deitado em meu travesseiro e posso sentir os chifres nascendo em minhas têmporas. Posso ver ao redor de mim todos aqueles meus malucos antepassados dançando em roda da cama, consolando-me, estimulando-me, vergastando-me com suas línguas de serpente, arreganhando os dentes e olhando-me de soslaio com seus crânios esquivos. Sou inumano! Digo isso com um riso louco e alucinado, e continuarei a dizê-lo ainda que chovam crocodilos. (...) Todo esse vômito de bêbedo, não pedido, não desejado, continuará a fluir interminavelmente através das mentes daqueles que virão no inesgotável vaso que contém a história da raça. Lado a lado com a espécie humana corre outra raça de seres, os inumanos, a raça de artistas que, incitados por desconhecidos impulsos, tomam a massa sem vida de humanidade e, pela febre e pelo fermento com que a impregnam, transformam a massa úmida em pão, e o pão em vinho, e o vinho em canção. (...) Um homem que pertence a essa raça precisa ficar em pé no lugar alto, com palavras desconexas na boca, e arrancar as próprias entranhas. É certo e justo, porque ele precisa! E tudo quanto fique aquém desse aterrorizador espetáculo, tudo quanto seja menos sobressaltante, menos terrificante, menos louco, menos delirante, menos contagiante, não é arte. O resto é falsificação. O resto é humano. O resto pertence à vida e à ausência de vida. "

In: MILLER, Henry. Trópico de Câncer. Rio de Janeiro: O Globo; São Paulo: Folha de S. Paulo, 2003. p. 230-231.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Fragmentos Caseiros


Surto inopinado
antes do alvor.
Gagueira insiste
não há palavras
Ouve-se vozes
de ratos.
O Queijo podre
lança o golpe.

A formiga
na fila eterna
espera o grão
a migalha
a sujeira
e decompõe-se
junto à matéria
orgânica.

No teto
os cupins
devoram
a roupa
a madeira
a carne
os sentidos.
E Proliferam-se.

Também a água
contamina-se
infiltra-se
na parede
no teto
na veia
e faz mofar
o que era belo

Os moveis
no pó.
A roupa
desgastada.
O sapato sujo
e velho
no chão.
O abandono.

A casa
um porão
fede urina
carniça
perde o viço.
Perdem-se
também
os amores.

Dani R.F.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Sofreguidão


No alcance de alguma mediação incontrolável
Um ligeiro movimento final
E teu rosto estava triste
Tua viva emoção
O fim da peça
O belo teatro devaneador  
Tuas lágrimas eram suaves
Levantamos como namorados de tempos afastados
A tensão castigava-me, pois
Roubaria-te um beijo reagido
E com pura avidez seguraria teu rosto prensando-o ao meu.

Ela chorou ainda mais
Desmanchando-se em meus braços
A melancolia evasiva
Chorou nos meus sonhos
Já havia me amado 
No fim,
Havia perdido-a. 

Lucas F.L.