terça-feira, 15 de setembro de 2009

O Pavão


Eu considerei a glória de um pavão ostentando o esplendor de suas cores; é um luxo imperial. Mas andei lendo livros, e descobri que aquelas cores todas não existem na pena do pavão. Não há pigmentos. O que há são minúsculas bolhas d'água em que a luz se fragmenta, como em um prisma. O pavão é um arco-íris de plumas.
Eu considerei que este é o luxo do grande artista, atingir o máximo de matizes com o mínimo de elementos. De água e luz ele faz seu esplendor; seu grande mistério é a simplicidade.

Considerei, por fim, que assim é o amor, oh! minha amada; de tudo que ele suscita e esplende e estremece e delira em mim existem apenas meus olhos recebendo a luz de teu olhar. Ele me cobre de glórias e me faz magnífico.

Rubem Braga

Rio, novembro, 1958


Simples e ternas. Assim são as lindas crônicas de Rubem Braga.
Texto extraído do livro "Ai de ti, Copacabana", Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1960, pág. 149

"Qualquer semelhança é mera coincidência"




Tudo aqui se refere na verdade a uma vida que se
fosse real não me serviria. O que decalca ela,
então? Real, eu não a entenderia, mas gosto da
duplicata e a entendo. A cópia é sempre bonita.
Lispector. A paixão segundo G. H.



“Ulisses não tem
nada a ver com Ulisses de Joyce. Eu tentei ler Joyce mas parei porque ele era chato,
desculpe, Eduardo. Só que um chato genial”

Não gosto quando dizem que tenho afinidade com
Virginia Woolf: é que não quero perdoar o fato de ela
se ter suicidado.