quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Nostalgia

Tive uma pequena reminiscência
Daquela cidade congelada.
Seus casarões imutáveis
Resistiam aos séculos que aniquilam lembranças
E sepultam consigo os bons momentos.

Um pouco de nostalgia tomou conta de mim
A noite inerme revelava só ausência
Não havia aquela gente
Nem os mesmos aglomerados
E a baderna que agitava e consolava a escuridão.

Não fui advertida dos anos que se passaram
Iludi-me com a barraquinha de pipocas-doces
Senti o cheiro de hortelã da caipirinha baiana
O gosto doce estonteante do meu vinho
E uma alegria repentina invadiu-me como um tufão.


Fui buscar meu tempo perdido.
Mas não avistei a roda de samba no Largo de São Francisco
Não encontrei o casal de italianos que faziam pizzas parisienses
E nem pude desfrutar da agitação costumeira do São Jorge
Somente os sinos setecentistas das igrejas continuavam a anunciar o tempo passado.

Retornei para o instante vivo
Contentei-me com as frituras do simpático casal de velhinhos.
Exausta, procurei um abrigo para passar a noite
E foi naquele velho hotel rococó onde encontrei um pouco de esperança
Recordando as promessas de um tempo venturoso.

Na laje do hotel, descobri uma visão panorâmica da cidade envelhecida
As luzes dos casarões e avenidas harmonizavam-se com a noite solitária
Um casal de enamorados contemplava o ribeirão corrompido
E um homem, sentado em cima da ponte,
Pensava na morte, entorpecido.

A cidade viva e festiva,
Regada de boemia e pretensos amigos noturnos
Hoje está reduzida a pequenos estilhaços da memória.
Sinto-me agora expatriada do meu próprio lugar imaginário
Com minhas raízes extraídas desse chão que jamais pertenci.



Dani R.F.

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segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Avenida


Em casos de flagrantes
A sodomia é poupada na noite
O caso é comum.
É a juventude se expressando
Jovens, amigas, efêmeras, alucinadas
Um abalo de estranhezas
“Vulvonares” compulsivas...

Correria nas ruas
As viagens nas madrugadas vazias,
São como tiros, projéteis dilacerantes
Onde perderão a força?...

É madrugada...
Na avenida a chuva cria a lama no jardim central
Eufóricas pelas sodas com vodca
Esfregam-se no pegajoso gramado
Ensopadas, se deliciam com as línguas bestiais
Rolam se pegando em unhas,
trançando as pernas,
esfolando as costas e os vestidos
e ali exauridas, adormecem.

O sol nublado rebusca a calçada,
os vestidos ainda úmidos,
manchados de lama e verde
Esqueceram de onde moravam
Ou talvez lhe faltaram forças para chegar em casa
Simplesmente repousaram na avenida principal.


Lucas F.L.