terça-feira, 30 de junho de 2009

Embriaguez

Quando as águas se tornam vis,
O rio passa e leva embora a pureza
E traz contigo, o meu gigante
O meu pecado e o teu corpo.
Quero beber desse copo proibido
Degustar em tuas veias
O sangue frio, que me aquece
Sonhar o baile da meia-noite
Incendiar-me no teu perfume
Que toca o corpo que se exume
E delicio a valsa dos malandros
Como o velho vinho tinto
Que me embriaga, estonteada
O som melódico em ritmo de heresia
Desaba colérico, em prantos
Minha loucura, meu espanto
Que encoraja o prazer, o hedonismo
Faz-me despertar a insanidade
E assim vou tragar junto com a tua fuligem
Devorar tua boca maldita
Que palpita minha mente suja

E num impulso desenfreado
Bebo com voracidade teu sangue
Caindo em mim, zeladamente
O gosto doce da embriaguez


Dani R.F.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

O Bêbado

Um vulto sai do nada
É a figura de um bêbado
Vestido como maltrapilho
Escuro em sua imundície.

O odor alastra por onde passa
O cheiro desagrada os cachorros
Como uma carniça viva
Que está pronta para o abate

Seu andar tortuoso
E os olhos que se embaraçam
Buscam a linha reta
Que se desequilibra e engana

Com as mãos, busca o apoio
Tocando no vazio
O bêbado cai anestesiado
E com dificuldade, levanta-se.

Continua em passos tortos
Para lá e para cá
Abanando as mãos
Abandonado no meio da rua

De repente, a ladeira
Atraente, mas traiçoeira,
Ela convida-o a subir devagar:
“Venha alcançar o céu, querido.”

O bêbado baba de felicidade
Seu hálito etílico vira perfume
A ladeira estende suas mãos
Para o destino do indigente

Ele sobe, sorrindo
Ao levantar suas mãos
O bêbado desapoia da parede
E cai no chão, desacordado.

Com a cabeça no chão
O sangue escorre fresco
A noite encobre-o com seu frio
E no meio da rua, ele morre.


Dani R.F.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Festas Juninas


Profundamente

Quando ontem adormeci
Na noite de São João
Havia alegrias e rumor
Estrondos de bombas luzes de Bengala
Vozes cantigas e risos
Ao pé das fogueiras acesas.

No meio da noite despertei
Não ouvi mais vozes nem risos
Apenas balões
Passavam errantes
Silenciosamente
Apenas de vez em quando
O ruído de um bonde
Cortava o silêncio

Como um túnel.
Onde estavam os que há pouco
Dançavam
cantavam
E riam
Ao pé das fogueiras acesas?

- Estavam todos dormindo
Estavam todos deitados
Dormindo profundamente.

Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci
Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Minha avó
Meu avô
Totônio Rodrigues
TomásiaRosas
Onde estão todos eles?
- Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente.

Manuel Bandeira
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Para fechar o mês no ritmo de festa junina, um belissimo poema desse nobre poeta.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

São João Del Rei


De baixo intensificaram os ciscos
Fungos e ácaros devorando epidermes falecidas
E a ferrugem corroendo preguinhos na periferia do sofá
Passado nas vertigens históricas
Umidade de tuberculoso, rio de ribeirão
Ponte da cadeia, beiral da janela de pedra sabão
Tudo foi filmado numa película saturada de negros
Cidade saiote de pelos afros e seios avermelhados
Muita madeira em cupins demasiados a gula antiga
A sarna de cães populares, itinerantes
Os sinos badalando o adormecer da fé
E tudo harmoniosamente rococó
Meu lápis, a pena, tinta e o travesseiro...

Lucas F.L.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Marginal.

Roberto Piva
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Manifesto Utópico-Ecológico em Defesa da Poesia & do Delírio



Invocação

Ao Grande deus Dagon de olhos de fogo, ao deus da vegetação Dionisos, ao deus Puer que hipnotiza o Universo com seu ânus de diamante, ao deus Escorpião atravessando a cabeça do Anjo, ao deus Luper que desafiou as galáxias roedoras, a Baal deus da pedra negra, a Xangô deus-caralho fecundador da Tempestade.


Eu defendo o direito de todo ser Humano ao Pão & à Poesia. Estamos sendo destruídos em nosso núcleo biológico, nosso espaço vital & dos animais está reduzido a proporções ínfimas quero dizer que o torniquete da civilização está provocando dor no corpo & baba histérica o delírio foi afastado da Teoria do Conhecimento & nossas escolas estão atrasadas pelo menos cem anos em relação às últimas descobertas científicas no campo da física, biologia, astronomia, linguagem, pesquisa espacial, religião, ecologia, poesia-cósmica, etc., provocando abandono das escolas no vício de linguagem & perda de tempo em currículos de adestramento, onde nunca ninguém vai estudar Einstein, Gerard de Nerval, Nietzsche, Gilberto Freyre, J. Rostand, Fourier, W. Heinsenberg, Paul Goodman, Virgílio, Murilo Mendes, Max Born, Sousandrade, Hynek, G. Benn, Barthes, Robert Sheckley, Rimbaud, Raymond Roussel, Leopardi, Trakl, Rajneesh, Catulo, Crevel, São Francisco, Vico, Darwin, Blake, Blavatsky, Krucënych, Joyce, Reverdy, Villon, Novalis, Marinetti, Heidegger & Jacob Boehme & por essa razão a escola se coagulou em Galinheiro onde se choca a histeria, o torcicolo & repressão sexual, não existindo mais saída a não ser fechá-la & transformá-la em Cinema onde crianças & adolescentes sigam de novo as pegadas da Fantasia com muita bolinação no escuro.


Os partidos políticos brasileiros não têm nenhuma preocupação em trazer a UTOPIA para o quotidiano. Por isso em nome da saúde mental das novas gerações eu reivindico o seguinte:


1 - Transformar a Praça da Sé em horta coletiva & pública.


2 - Distribuir obras dos poetas brasileiros entre os garotos (as) da Febem, únicos capazes de transformar a violência & angústia de suas almas em música das esferas.


3 - Saunas para o povo.


4 - Construção urgente de mictórios públicos (existem pouquíssimos, o que prova que nossos políticos nunca andam a Pé ) & espelhos.


5 - Fazer da Onça (pintada, preta & suçuarana) o Totem da nacionalidade. Organizar grupos de Proteção à Onça em seu habitat natural. Devolver as onças que vivem trançadas em zoológicos às florestas. Abertura de inscrições para voluntários que queiram se comunicar telepaticamente com as onças para sabermos de suas reais dificuldades. Desta maneira as onças poderiam passar uma temporada de 2 semanas entre os homens & nesse período poderiam servir de guias & professores na orientação das crianças cegas.


6 - Criação de uma política eficiente & com grande informação ao público em relação aos Discos-Voadores. Formação de grupos de contato & troca de informação. Facilitar relações eróticas entre terrestres & tripulantes dos OVNIS.


7 - Nova orientação dos neurônios através da Gastronomia Combinada & da Respiração.


8 - Distribuição de manuais entre sexólogas (os) explicando por que o coito anal derruba o Kapital


9 - Banquetes oferecidos à população pela Federação das Indústrias.


10 - Provocar o surgimento da Bossa-Nova Metafísica & do Pornosamba. O Estado mantém as pessoas ocupadas o tempo integral para que elas NÃO pensem eroticamente, libertariamente. Novalis, o poeta do romantismo alemão que contemplou a Flor Azul, afirmou: "Quem é muito velho para delirar evite reuniões juvenis. Agora é tempo de saturnais literárias. Quanto mais variada a vida tanto melhor ".

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Vinícius de Moraes, "o boêmio incurável"




“Se eu tivesse, se eu tivesse muitos vícios
O meu nome deveria ser Vinicius
Se esses vícios fossem muito imorais
Eu seria o Vinicius de Moraes.”

Versos de José Carlos Oliveira


"Na verdade, mais do que imoral, Vinicius foi amoral, no sentido de que ele mesmo elaborava seus códigos de conduta, se é que tinha algum. Poucas pessoas viveram a vida com tanta liberdade, despudor e prazer. E poucos poetas foram tão sensuais, tão capazes de cantar o amor carnal com tanto lirismo. Seus sonetos sobre o tema podem figurar numa antologia ao lado dos de Camões."


Zuenir Ventura em "Bendito Vagabundo"

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Soneto

Quando me ergui ela dormia, nua
E sorria, em seu sono desmaiada
Tinha a face longínqua e iluminada
E alto, seu sexo sugava a Lua.

Toquei-a, ela fremiu, gemeu, na sua
Doce fala, e bateu a mão alçada
No ar, e foi deixá-la de guardada
Sob a nádega fria, forte e crua

Tão louca a minha amiga, linda e louca
Minha amiga, em seu branco devaneio
De mim, eu de amor pouco e vida pouca

Mas que tinha deixado sem receio
Um segredo de carne em sua boca
E uma gota de leite no seu seio


Vinícius de Moraes


Bom dia, tristeza
Bom dia, tristeza
Que tarde, tristeza
Você veio hoje me ver
Já estava ficando
Até meio triste
De estar tanto tempo
Longe de você

Se chegue, tristeza
Se sente comigo
Aqui, nesta mesa de bar
Beba do meu copo
Me dê o seu ombro
Que é para eu chorar
Chorar de tristeza
Tristeza de amar


Vinícius de Moraes

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Grande Sertão: Veredas


"Todos estão loucos, neste mundo? Porque a cabeça da gente é uma só, e as coisas que há e que estão para haver são demais de muitas, muito maiores diferentes, e a gente tem de necessitar de aumentar a cabeça, para o total. Todos os sucedidos acontecendo, o sentir forte da gente - o que produz os ventos. Só se pode viver perto do outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura. Deus é que me sabe."


Guimarães Rosa

sábado, 13 de junho de 2009

Dia dos Namorados

NAMORADOS



O rapaz chegou-se para junto da moça e disse:

- Antônia, ainda não me acostumei com o seu corpo, com a sua cara.

A moça olhou de lado e esperou.

- Você não sabe quando a gente é criança e de repente vê
uma lagartixa listada?

A moça se lembrava:- A gente fica olhando...


A meninice brincou de novo nos olhos dela.

O rapaz prosseguiu com muita doçura:

- Antônia, você parece uma lagarta listada.

A moça arregaçou os olhos, fez exclamações.

O rapaz concluiu:

- Antônia, você é engraçada! Você parece louca.

Manuel Bandeira

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Inverno


Está tarde,
Um frio seco começa a invadir o corpo
Já não é tempo de apreciar a carne
E o erotismo dos contornos femininos

Num lugarejo, a escuridão
O espectro ranzinza e esmagador
Revela a face de algo desfeito
É a mulher protegida do seu próprio desejo

Reina a decadência elegante
Esconde em seu abrigo o pecado desperto
O mistério atiça a mente
E o porvir das horas quentes

O vislumbre que rasga, que corta
Reflete na mulher uma calma suave
Seu semblante vazio e emudecido
Enfadonha turbulência de sofrer

A mulher senta-se calada
Seus olhos fatídicos revelam a embriaguez
Diante de si, um copo de conhaque
Um cigarro e a solidão.
Dani R.F.
Pintura de H. Toulouse Lautrec - Gueule de Bois

terça-feira, 9 de junho de 2009

Manuel Bandeira, um dos meus preferidos!

TRAGÉDIA BRASILEIRA

Misael, funcionário da Fazenda, com 63 anos de idade,

Conheceu Maria Elvira na Lapa, - prostituída, com sífilis, dermite nos dedos,uma aliança empenhada e o dentes em petição de miséria.

Misael tirou Maria Elvira da vida, instalou-a num sobrado no Estácio, pagou médico, dentista, manicura... Dava tudo quanto ela queria.

Quando Maria Elvira se apanhou de boca bonita, arranjou logo um namorado.

Misael não queria escândalo. Podia dar uma surra, um tiro, uma facada. Não fez nada disso: mudou de casa.

Viveram três anos assim.Toda vez que Maria Elvira arranjava namorado, Misael mudava de casa.

Os amantes moraram no Estácio, Rocha, Catete, Rua General Pedra, Olaria, Ramos, Bonsucesso, Vila Isabel, Rua Marquês de Sapucaí, Niterói, Encantado, Rua Clapp, outra vez no Estácio, Todos os Santos, Catumbi, Lavradio, Boca do Mato, Inválidos...

Por fim na Rua da Constituição, onde Misael, privado de sentidos e de inteligência, matou-a com seis tiros, e a polícia foi encontrá-la caída em decúbito dorsal, vestida de organdi azul.


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POEMA TIRADO DE UMA NOTICIA DE JORNAL

João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.
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PNEUMOTÓRAX
Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
- Diga trinta e três- Trinta e três... trinta e três... trinta e três...
- Respire.

- O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito[infiltrado].
- Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
- Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.

Nelson Rodrigues, uma mente suburbana II

Textos retirados da revista Manchete. Para melhor visualizá-los, clique em cima da imagem:


quarta-feira, 3 de junho de 2009

Mário Quintana

OS POEMAS

Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhoso espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...


POEMINHA DO CONTRA
Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!
A OFERENDA
Eu queria trazer-te uns versos muito lindos...
trago-te estas mãos vazias
Que vão tomando a forma do teu seio.
BILHETE
Se tu me amas,
ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho,
Amada, que a vida é breve,
e o amor mais breve ainda...

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Palavras reprimidas


Ah, quanto me resta dizer o que nao consigo!
Palavras que tentam sair da boca como náuseas
e depois fazem seu vai-e-vem
embrulhando todo o estômago de piruetas,
e dançam seguindo o ritmo da valsa,
agitam como as moléculas que sofrem a colisão: bummmm!
explodem!


Mas as palavras ficam mutiladas em pequenos pedaços do corpo,
espalhando-se nesse vasto verde montanhoso.
Viram figuras de interferência,
com rabiscos multicoloridos,
rangendo contra as quatro paredes.
Mesmo aquelas que são vomitadas no vaso
fundem-se com a água espumante...
embaralham-se!


O que vou eu dizer a ti?
mente confusa querendo algo dizer?
Estão em toda parte...
na gaiola junto com o canarinho branco,
no porão junto com a cadela no cio,
na mesa, no banheiro, dentro do carro, no bolso da calça...
em toda a parte e nao consigo arrancá-las!!

Perdoe-me se for asneira,
mas terá que me perdoar mais ainda
se falar eu nao conseguir,
enfim, as palavras continuam vagando aí
como esses seres mundanos...
Estão perdidas, simplesmente!
Dani R.F.

Nelson Rodrigues, uma mente suburbana



“Já falei da louca, filha da lavadeira. Foi a primeira mulher nua que vi na minha infância. E, ainda agora, ao bater estas notas, tenho a cena diante de mim. Eu me vejo, pequenino e cabeçudo como um anão de Velásquez. Empurro a porta e olho. O espantoso é que sinto uma relação direta e atual entre mim e o fato, como se a memória não fosse a intermediária. A demente tem a tensão e o cheiro da presença viva. Mas como ia dizendo: - no fundo, encostada à parede, está a nudez acuada”.
“Uma meia dúzia aceitou Álbum de família. A maioria gritou. Uns acharam “incesto demais”, como se pudesse haver “incesto de menos”. De mais a mais, era uma tragédia “sem linguagem nobre”. Em suma: - a quase unanimidade achou a peça de uma obsessiva, monótona obscenidade. Augusto Frederico Schmidt falou na minha “insistência na torpeza”. O dr. Alceu deu toda razão à polícia, que interditaria a peça; meu texto parecia-lhe da “pior subliteratura". Assim comecei a destruir os meus admiradores. Foi uma carnificina literária. Mas não me degradei, eis a verdade, não me degradei”.
“Desde aquela época, cada um, na vida literária, tinha que ser um engajado. Ninguém ia à rua sem a sua pose ideológica. Lembro-me de Isaac Paschoal me perguntando, depois de um discurso de Prestes: - “E você? Qual é a sua contribuição?”. Baixei a vista, rubro de vergonha. E, como ainda não contribuíra, senti-me um fracassado nato e hereditário. Daí porque não posso ver, hoje em dia, o Guimarães Rosa, sem uma sensação de deslumbramento. Durante anos, pratiquei a solidão com certo pânico e certa vergonha. E eis que vem o autor de Sagarana e ergue a sua torre de marfim, assim como um cigano põe a sua barraca. Nada existe: - só a sua obra. Estão brigando no Vietnã? Pois o nosso Rosa escreve. Há a guerra nuclear, o fim do mundo? Guimarães Rosa funda outro idioma. A torre de marfim fez dele o maior artista brasileiro do século”. (A menina sem estrela - Memórias, de Nelson Rodrigues, 1999)


Ninguem do país como ele conseguiu desnudar a sociedade, tirar suas máscaras e trazer aos olhos do mundo a vida como ela é. De uma sinceridade mórbida e agressiva, foi recebido com horror pela sociedade moralista, sem ao menos aceitar que, no fundo, ela se igualava aos personagens rodrigueanos. A sociedade, nas palavras do próprio Nelson, estava apenas "cuspindo na própria imagem".
"E, quase sempre, o homem nasce, vive e morre sem ter contemplado jamais o seu rosto verdadeiro, e sem ter jamais conhecido seu nome eterno.". (N.R.).





Entrevista com Nelson Rodrigues:



Manchete
Mas você é muito amargo.

Nelson Rodrigues
— Como?Manchete Muito amargo em face da vida.Nelson RodriguesMeu coração, meu anjo: a amargura é o elemento do artista. A amargura dá uma dimensão fantástica ao artista..


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Apesar da sua obra ser considerada pessimista, Nelson Rodrigues acreditava no amor como salvação da humanidade. Seu objetivo, ao escrever suas peças, era o de provocar uma catarse no espectador para que ele revisse seus valores e não cometesse os seus "pecados".


“A ficção para ser purificadora precisa ser atroz. O personagem é vil para que não o sejamos. Ele realiza a miséria inconfessa de todos nós”.

"É preciso ir ao fundo do ser humano. Ele tem uma face linda e outra hedionda. O ser humano só se salvará se, ao passar a mão no rosto, reconhecer a própria hediondez.".