sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Brunie


Uma catarse ousada, um casal e um amigo
Três jovens no viço:
dois porra-loca e um elemento estranho
Pensam estar livres por fumarem indiferença 
Deitam entre si
Promovem dor em suas camas 

O amigo era um sujeito bom
Cansado das mulheres
Agora vaga com esse casal
Espera ou já bebe um pouco de consternação

Hoje ele tem a barba por fazer
O cigarro compulsivo
O foda-se!

Essa sua nova estampa
Está autentica
Não nasceu para as mulheres
Antes era um canastrão
Hoje, um cara apático.

Lucas F.L.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Despedida - Rubem Braga

E no meio dessa confusão alguém partiu sem se despedir; foi triste. Se houvesse uma despedida talvez fosse mais triste, talvez tenha sido melhor assim, uma separação como às vezes acontece em um baile de carnaval — uma pessoa se perde da outra, procura-a por um instante e depois adere a qualquer cordão. É melhor para os amantes pensar que a última vez que se encontraram se amaram muito — depois apenas aconteceu que não se encontraram mais. Eles não se despediram, a vida é que os despediu, cada um para seu lado — sem glória nem humilhação.

Creio que será permitido guardar uma leve tristeza, e também uma lembrança boa; que não será proibido confessar que às vezes se tem saudades; nem será odioso dizer que a separação ao mesmo tempo nos traz um inexplicável sentimento de alívio, e de sossego; e um indefinível remorso; e um recôndito despeito.

E que houve momentos perfeitos que passaram, mas não se perderam, porque ficaram em nossa vida; que a lembrança deles nos faz sentir maior a nossa solidão; mas que essa solidão ficou menos infeliz: que importa que uma estrela já esteja morta se ela ainda brilha no fundo de nossa noite e de nosso confuso sonho?

Talvez não mereçamos imaginar que haverá outros verões; se eles vierem, nós os receberemos obedientes como as cigarras e as paineiras — com flores e cantos. O inverno — te lembras — nos maltratou; não havia flores, não havia mar, e fomos sacudidos de um lado para outro como dois bonecos na mão de um titeriteiro inábil.

Ah, talvez valesse a pena dizer que houve um telefonema que não pôde haver; entretanto, é possível que não adiantasse nada. Para que explicações? Esqueçamos as pequenas coisas mortificantes; o silêncio torna tudo menos penoso; lembremos apenas as coisas douradas e digamos apenas a pequena palavra: adeus.

A pequena palavra que se alonga como um canto de cigarra perdido numa tarde de domingo.

Extraído do livro "A Traição das Elegantes", Editora Sabiá – Rio de Janeiro, 1967, pág. 83.
Imagem extraída de
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgg-sB_-zArvo2_j65RanatNlZifoUL-V7-WbJvNbnjDmKt-aUC7jvfL2CLWuCHipfBwxfgaeyDVMm1hA4dycyM3VpDn6x61LT3ml0xeS8aGyslsGl-VX45ZtLlmyc87UXsrRB2N6DIEnA/s400/despedida.jpg

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

José Saramago

"Não escrevo para agradar e tampouco escrevo para desagradar. Escrevo para desassossegar."

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Poema de Finados



Amanhã que é dia dos mortos
Vai ao cemitério. Vai
E procura entre as sepulturas
A sepultura de meu pai.

Leva três rosas bem bonitas
Ajoelha e reza uma oração.
Não pelo pai, mas pelo filho:
O filho em mais precisão.

O que resta de mim na vida
É a amargura do que sofri.
Pois nada quero, nada espero.
E em verdade estou morto ali.
 
Manuel Bandeira