quinta-feira, 30 de julho de 2009

A Estrangeira

Uma viajante neófita
Revelou seu estado de alma
Era uma estrangeira incalculada
Distante do mundo
Perdida de si

As vozes longínquas
Inalcançáveis que são
E os bairros solitários
Foram só vontade insossa
Da mocidade desperdiçada

Esqueceram-se dela
Pobre mulher pequena
Só corpo esmiuçado
De vaga memória
Uma boniteza estragada

Ninguém se lembrou do tabaco podre
E da garrafa reutilizada
Abandonada despiu-se da carcaça
Estrangeira que foi
Ao ir embora, desapareceu.

Sou uma estrangeira, distante do mundo, perdida de mim!


Dani R.F.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Juventude Verde

Avistei aquela menina
Que por um corte no dedo, um dia chorou
Frágil, pequenina, achava que ia morrer
A mãe, assustada, socorreu-a
Fez os curativos e tentou acalmá-la.

Espasmos, cortesia bruta
Vida inda, crescente
A comida da mesa com mimos
A regrada monotonia dos dias
O surto do calar antes de dormir
O êxtase demasiado agonizante
Tempo passa, do calor aos dias frios
Corre depressa, levando a inocência ninfal.

Juventude verde, repentina
Floresce no frescor macio da pele
Ao som do rock drop, despertou a vadiagem
Leviana, fugia da solidão maléfica
Indo parar nos botecos fora da criação mesquinha

Incontida, saiu dos domínios da mãe
Entregou-se sem saber amar.
Esquivou-se de seus bons modos
Já não era a aparência frágil de quem chora por um dedo cortado
Mas a vi, tão solitária e deprimente.
Nas andanças da banda triste
A barriga crescendo, o rosto encolhido

Sim, a fragilidade disfarçada de quem perdeu a alma

Dani R.F.

Pintura de Gustav Klimt. "Hope" (1903)

terça-feira, 14 de julho de 2009

A Ruiva



Um sonho de consumo
Dos garotos pubéricos
Mulher menina dos cabelos avermelhados
Com um copo de caipirinha,
Desconversava.

Entre manhãs e noites,
Uma pitada de cultura
Ao sol da meia-noite e o blues
Incendiava-se como seus cabelos de fogo
Palpitante.

Desvirginada aos treze
Prostitui-se aos vinte e poucos anos
Deu para um, dez, oitenta
Adoeceu
E morreu de aids.

Dani R.F.
Imagem de Henri de Toulouse-Lautrec - "A Ruiva", 1896

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Oceano de Mim




A terra em si não faz ruídos?
Ora, nem na mais profunda quietude
A ausência de vidas impede o grito do mundo
Quer sentir?

As portas se fecharam estrondosamente
E o frio lá fora zuniu nórdico
A natureza é genitora de toda a perfeição
Repenicando contra minha própria natureza.


Vejo o marasmo decadente dos vadios encardidos
Além de um emaranhado de fios no seu desce-e-sobe
Pencas de astros desabrocham do infinito iluminado
Acentuando a sofreguidão da lua uivante.
Oh, Deus, tudo isso é o inferno do paraíso?
Pois não vejo senão o vácuo dessa imensidão
Um vazio solitário dessa angústia ansiosa
Da cruel incerteza fazendo cambalhotas no ar.


Esse mar profundo e gélido em seu desatino
Possui meus fantasmas escaveirados vagando dentro de mim
Quantos mistérios meus estão ali habitados?
Pois estão submersos nesse oceano de dúvidas
Que eu tanto bebo como quem tem sede
No mais, sou insaciável, sou gigante, devoradora
De todos os meus pensamentos medíocres flutuantes
Com os sonhos mergulhados vindo à tona esverdeantes.


Vejo a vida lá fora enfadonha atirando os raios da dor
Com as costas esguias viradas para mim com enojo
As portas permanecem cerradas com os seus segredos
E as almas penadas produzem os ventos devassadores
Através do frio palpitante no peito esbaforido e saliente
É possível afinal desvendar o esconderijo do silêncio?
Algumas descobertas podem causar a grande desgraça humana
E eu, um mar habitado no enigma do meu ser.

Dani R.F.

17-11-06

terça-feira, 7 de julho de 2009

Em Paz

O ato
A insônia
Solidão
E fome
Amordaçados,
E no fim da noite
O abandono do madrugar.

O galo canta
Astuto
Imperioso.
Lá fora, a geada
Gandaia dorme
Em paz
Sossegando

O movimento
Ainda se espreguiça.
Bêbado morto
Por deus, não!
Está deitado na rua
Roncando
Encardido.


As horas mau-vindas
Senhores, acordai-vos!
A noite ainda espera
Sedutora
Ansiosa.
O bacanal resguarda
No sono, os filhos da noite.

Dani R.F.