quarta-feira, 27 de maio de 2009

A Fórmula



"De quem tem medo. imbecil? Das pessoas que o estão olhando? Da posteridade, por estranho acaso? bastaria uma coisa ínfima: conseguir ser você mesmo, com todas as fraquezas inerentes, mas autêntico, indiscutível. A sinceridade absoluta seria em si mesma um tal documento! Quem poderia suscitar objeções? Este é o homem, um dos muitos, se quiserem, mais um. Os outros seriam obrigados a levá-lo em consideração, estupefatos, pela eternidade."
Dino Buzzati, Naquele Exato Momento.
Autor da obra-prima O Deserto dos Tártaros

terça-feira, 26 de maio de 2009

O FIM

Vindo de cóleras que embriagam
A água que escorre turva e lenta
Cheira o frescor da miséria
E a imundície reinante na metrópole
Petrifica os bons pensamentos

Através dos nossos olhos
A mulher deitada, agonizando
Necessitando de socorro
Grita por dentro, sofrendo
Transeuntes passam por ela
E vêem uma sombra negra
É um mendigo, um cachorro, um rato!
A figura pouco importa
Importa o que lhes apraz
A imundície da calçada
A mancha vermelha que escorre
O odor que enoja as narinas
A sujeira que inunda suas veias
Isso não importa.

Não há tempo mais para amar
Não conseguiremos viver os sonhos
Não teremos bondades

Não caminharemos de mãos dadas
Não admiraremos o belo
Não cantaremos a vida
Não mais, não agora
Nem no futuro próximo
Menos ainda no fim da vida




Dani R.F.


quinta-feira, 21 de maio de 2009

Loucura

Até meu filho de menos de dois anos de idade me conhece melhor do que eu...
Ao ver atitudes, gestos ou expressões estranhas, ele diz:
Mamãe doida, mamãe doida...
E meus braços continuam a balançar como pêndulos de relógio
Minhas mãos continuam a tocar tambores descompassadamente
Minhas pernas continuam a arrancar feito elástico esticado quando solto
E meus ouvidos continuam a ouvir
Mamãe doida, mamãe doida...
Até ver chegar meu marido com um copo d'água e uma balinha azul
ela desce em minhas goelas e repousa no meu estômago
Se dissolvendo lentamente, poderosíssima
E os ecos de uma voz fina vão se tornando cada vez mais suaves
Ma-mãe doidaaa, ma-mãe doidaaaa
E cessam de uma vez, trazendo para meus olhos, a escuridão plena.
Dani R.F.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Retorno?!

Ressuscitei...
Como aquela que quer devorar os extremos
Ter de volta os pequenos versos
As pequenas mágoas e grandes paixões

Voltei...
A embriagar-me de desejos
De pensamentos insanos
E de loucuras desmedidas

Senti Saudades
De ver encostada em brancas paredes
De lagrimas convulsivas
E olhos borrados
Boca seca entreaberta
O espanto desatinado
Em gritos incontroláveis
Anunciando o decadente

Quero meu café quente
Quero deleitar-me em sonhos rústicos
aconchegar-me das noites frias
Dos ventos nórdicos
Descansando, inventando...



Dani R.F.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Urbanidades

Sem pressentimentos que me tolerem
Quão vazia é a busca
De estar e não ter que ir
De sonhos dourados que ofuscam
De mazelas derretidas
De carne fria e seca
De desvantagens e agonia
De vidas que penetram
É assim
O nada e o tudo
A inexatidão do óbvio
A presença inconfundível do pitoresco
Ansioso em sua ansiedade
Querendo vomitar e não poder ejacular
Pensamentos bulímicos das coisas digeridas
Prefiro jogar tudo fora do que simplesmente
Degustar o chato
Mesmo que descanse a sordidez
É nítida a idéia de fuga
Fuga da imensidão
Das coisas vindas
Da realidade onipresente
Santa ubiqüidade, me dizes:
O que eu vou fazer de mim????
Daniele R.F.